segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A DIFÍCIL MISSÃO DE ACEITAR O OUTRO.

Nossa cultura, ao contrário das outras, não pratica com arte, sabedoria e gosto a aceitação. Aceitar é vista muitas vezes como uma atitude submissa, conformista, adaptativa.
Aceitar, para nós, é muitas vezes um gesto de fraqueza em que “entregamos os pontos para o outro”. A exceção encontra-se por vezes, em algumas pessoas que pouco a pouco aprenderam a compreender, a perdoar a aceitar a condição do outro. De fato não é fácil aceitar o comportamento de um filho que insiste em se auto-destruir nas drogas, em atitudes suicidas. Não é fácil aceitar um marido alcoólatra, desorganizado financeiramente e que insiste em não se tratar. Não é fácil ver um filho crescer, sair de casa e nos “abandonar”.
Nossa cultura valoriza mais o julgamento, a crítica, o controle, a denúncia, obviamente sempre em nome de algo bom para o criticado ou julgado.
Se é assim ou se é um pouco assim, talvez seja útil refletirmos sobre a arte de julgar e quem sabe nos prepararmos para faze-la em uma direção melhor que a usual.
Julgar é interpretar (no sentido de explicar ou dar significação) ou valorizar ( no sentido de avaliar como certo ou errado, bom ou mau, perigoso ou não, etc) as coisas ou pessoas com quem nos relacionamos. Julgar é fundamental porque nos possibilita tomar uma decisão e agir ou reagir em função dela. Julgar é, por isso, uma atitude de conhecimento.
Um julgamento, no mínimo, pode ter duas direções. Uma delas interpreta pela via da classificação, isto é, de atribuir um conceito à coisa julgada e com isso pré-definir o que é ou vale a “caixa” na qual ele nos coloca ou o conceito que ele tem disso. Se o conceito é positivo, o julgamento é favorável e então o que fazemos ou somos, é aprovado por ele. Caso contrário, somos criticados, excluídos e punidos.
Nessa direção, então, o julgamento está atrelado ao mundo dos conceitos que tem a pessoa ou o grupo que nos julga. Trata-se, como disse, de algo prévio que fazemos ou somos, pois o conceito tem a função do critério que o define. A vantagem do interpretar pela via do conceito é que isso organiza nossa interação, livra-nos, do medo da surpresa, do que não podemos controlar totalmente.

( continuação no próximo texto ).

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